A Vera tem 30 anos e é administrativa. Casada com o Bruno, têm a bebé Laura há 14 meses. Na viagem pelas primeiras semanas de pós-parto descobriu que afinal as regras que jurava que ia aplicar não lhe serviam para nada; percebeu a importância de ter alguém que ajude a levar refeições aos pais enquanto estes cuidam do bebé, protestou contra as visitas em catadupa e descobriu que a bebé Laura seria sempre melhor professora do que qualquer livro que pudesse ter lido.
Que mãe imaginavas que serias enquanto ainda estavas grávida?
Quando estava grávida, lia todos os livros e procurava imensa informação para ser uma mãe amorosa mas disciplinada. Regras, condicionalismos.. eram a minha crença para ser uma boa mãe. Pensava mesmo que se fizesse “X” aconteceria “Y” porque os bebés são todos iguais.
Que enganada que estava…
E o teu maior medo qual era?
Que algo acontecesse à bebé durante a gravidez, que algo acontecesse durante o nascimento e todas as perspetivas, planos e sonhos fossem por água abaixo, não ser capaz de cuidar dela.
O que sentiste quando viste o teu bebé pela primeira vez?
Medo, muito medo! Sempre pensei que os bebés chorassem quando nascem mas isso não aconteceu. A Laura não chorou, teve que ser reanimada e os minutos de espera foram criando uma ansiedade que mais tarde percebi que tinha repercussões na forma como a tratava. Foi um momento de muita ansiedade, não sabia o que esperar, o que era esperado de mim como mãe, progenitora. Seria suposto chorar? Não chorei… as emoções mais fortes foi mesmo até ouvir a bebé chorar, aí fiquei mais tranquila e percebi que estava tudo bem.
Também não a amei logo assim que nasceu. Pensava que todas as mães amavam as suas crias a partir desse momento, mas não aconteceu comigo. Sentia algo por ela, preocupação, sabia que dependia de mim para sobreviver, mas não a amava. Fomo-nos conhecendo e o amor crescendo, e cada dia que passa é um pouco maior.
E a chegada a casa como foi?
Foi menos tranquila do que esperava, pois o parto estava planeado para uma data e ela resolveu vir antes. Mas o essencial estava pronto, tivemos que nos adaptar uns aos outros, conhecermo-nos, aprender!
Como foram as primeiras semanas?
Foi muito cansativo, a menina dependia muito mais de mim do que qualquer outra pessoa, por mais boa vontade que houvesse, mas no geral até foi positivo. Nas primeiras semanas as hormonas falavam mais alto, mas rapidamente passou.
Percebi que algo não batia certo na forma com lidava com a Laura, apesar de tantos meses de leituras e tantos conceitos absorvidos, na prática não sentia que estivesse a fazer as coisas correctamente. Ser mãe não é algo que se aprenda com os livros, ser mãe aprende-se com um bebé todos os dias e só após conhecer a Constança percebi o que me faltava e tudo mudou.
Qual foi o momento mais difícil?
As visitas, as visitas que teimavam em chegar e estar como se nada tivesse acontecido. Não terem respeitado o meu espaço e o Pai não perceber que tinha que se impor e defender-nos nesse momento. Sempre dividimos a vida com amigos, para tudo e para nada, mas realmente este é um momento íntimo do casal e demasiado importante para ser prejudicado com “ruído”, coisas não essenciais.
O que sentiste que te ajudou mais?
Ir trabalhar 1 semana depois do parto (com ela). É estranho mas o facto de sair de casa de manhã com o Bruno e a menina e passar a manhã a trabalhar, ou pelo menos fora de casa, penso que ajudou a que eu – Vera – estabilizasse mais rapidamente as ideias. À tarde ficávamos em casa e tínhamos tempo para estar sossegadas e usufruirmos uma da outra.
E menos?
Ninguém me levar comida feita! Os primeiros meses da Laura não comi uma refeição decente, a maioria das vezes nem uma sopa tinha. A Laura nasceu com baixo peso, pelo que mamava de 3/3h no mínimo durante as 24 horas durante pelo menos 1 mês. Eu não tinha qualquer capacidade de me organizar e planear refeições e de as fazer. O Bruno chegava tarde e ajudava com a menina, pelo que as refeições pura e simplesmente não havia…
Um momento especialmente belo que te tenha marcado…
É difícil definir um momento, a simples experiencia da maternidade/paternidade é marcante enquanto indivíduo e enquanto casal. Talvez as primeiras vezes que ela olhava para nós e nos reconhecia.
Que mudanças um filho traz no casal?
No nosso caso foram algumas mudanças de rotinas, mas sempre tentámos manter a “chama viva”. Antes da Laura nascer a minha vida sexual satisfazia-me bastante e era algo que não queria perder. Infelizmente os primeiros 6 meses após o nascimento dela as coisas não correram tão bem como queria por falta de ajuda, informação, o que fosse.
Com essa preocupação tentei resolver o problema e felizmente consegui e a partir daí a vida já corre com normalidade. Às vezes estamos mais cansados, sem dúvida, algumas noites são mal dormidas e sente-se a todos os níveis. Na questão social sempre fizemos questão de ir jantar com os amigos, ou de receber os amigos em casa e isso continua.
És a mãe que imaginaste que serias?
Não, sou bem melhor! Sem dúvida alguma! Erro como toda a gente, a Laura está a ensinar-me a ser mãe mas ela é a melhor professora que podia ter.
Que conselho darias hoje a ti mesma no dia em que nasceu o teu bebé?
Ouve-a, não ouças os outros (excepto a Constança!). Ouve a bebé que ela sabe o que precisa e o que ela mais precisa é de ti! Esquece as horas, as regras e os “maus hábitos” e segura-a junto ao peito o máximo de tempo possível. As coisas seguem o caminho certo se seguires os teus instintos. É só acreditares.